Curso DESIGN
Turma GCE1440106NNA
Disciplina (GSER941000) - SOCIEDADE E CULTURA
Carga Horária 60h - Limite de Faltas 15
Ementa
Compreender de forma clara os princípios que norteiam a identidade brasileira;
Conhecer a produção dos principais intérpretes do Brasil.
Ementa da disciplina (25% da carga horária)
- Reflexão sobre a nacionalidade brasileira, relacionando as diversas interpretações dos mais importantes pensadores, desde o século XIX até o final do século XX, suas características, seus impasses e seus desafios.
- Fatores-chave da definição da sociedade e da cultura brasileiras: mestiçagem, cordialidade, mitos de origem, subdesenvolvimento.
Conteúdo programático
UNIDADE I:
- AS ETAPAS DE PRODUÇÃO DO PENSAMENTO SOCIAL E CULTURAL BRASILEIRO.
- A CARTA DO ACHAMENTO, DE PERO VAZ DE CAMINHA.
- NOMES DADOS AO PAÍS.
- A PROBLEMÁTICA INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE BRASILEIRA.
- O BRASIL COMO NAÇÃO.
- SÉC. XIX: PRIMEIROS INTÉRPRETES DA JOVEM NAÇÃO: BONIFÁCIO, VON MARTIUS, VARNHAGEN, ALENCAR.
- A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL.
- A QUESTÃO DA MELHOR RAÇA: MESTIÇAGEM X IMIGRAÇÃO.
- DISCURSO CIVILIZADOR E DEBATE POLÍTICO: INTEGRAÇÃO CIVIL E RACIAL.
- CIDADANIA, ESCRAVIDÃO E INDIANISMO.
- O ESTADO NOVO: GILBERTO FREYRE, SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA, CAIO PRADO JR.
- DISCUSSÕES SOBRE AS MARCAS DEIXADAS PELO TIPO DE COLONIZAÇÃO DO PAÍS.
- O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL.
- A REFLEXÃO SOBRE O HOMEM CORDIAL.
- A INTERPRETAÇÃO MARXISTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA.
UNIDADE II:
- OS ANOS JK: CANDIDO, FURTADO, FAORO.
- A EUFORIA DOS ANOS JK.
- A CRÍTICA CULTURAL SOBRE A VIDA ECONÔMICA E SOCIAL BRASILEIRA.
- O FADO DO SUBDESENVOLVIMENTO.
- A HISTÓRICA APATIA DO POVO BRASILEIRO.
- O REGIME MILITAR: BRASILIANISTAS, FLORESTAN FERNANDES, DARCY RIBEIRO.
- OS MOVIMENTOS DE ESQUERDA, O AUTORITARISMO E A DIVERSIDADE CULTURAL.
- A CONSOLIDAÇÃO DO CAPITALISMO NO BRASIL.
- LATINIDADE E PERIFERIA.
- A UTOPIA DE UM POVO NOVO.
- A NEGRITUDE COMO TRAUMA NACIONAL: PENSADORES NEGROS.
- MANUEL BONFIM.
- MILTON SANTOS.
- ABDIAS NASCIMENTO.
- GUERREIRO RAMOS.
Metodologia de ensino e aprendizagem
A disciplina, dependendo de sua natureza, pode ser ministrada através de conteúdos teóricos, conteúdos práticos, aulas de campo em instituições específicas e ainda pode utilizar recursos de exposições dialogadas, grupos de discussão, seminários, debates competitivos, apresentação e discussão de filmes e casos práticos, onde os conteúdos podem ser trabalhados mais dinamicamente, estimulando o senso crítico e científico dos alunos.
Metodologia de avaliação
No decorrer de cada período letivo são desenvolvidas 02 (duas) avaliações por disciplina, para efeito do cálculo da média parcial. A média parcial é calculada pela média aritmética das duas avaliações efetuadas. O aluno que alcançar a média parcial maior ou igual a 7,0 (sete) é considerado aprovado. O aluno que não alcançar a média parcial faz em exame final onde precisa alcançar média final maior ou igual a 5,0. São aplicadas avaliações dos tipos: provas teóricas, provas práticas, seminários, trabalhos individuais ou em grupo e outras atividades em classe e extraclasse. O exame final é, obrigatoriamente, prova escrita.
Recursos áudio visuais
Lousa branca;
Projetor Multimídia.
Links Relacionados
JOSÉ BONIFÁCIO: UMA CONCEPÇÃO DE NAÇÃO
___________________________________
Racismo
O racismo é um dos principais
problemas sociais enfrentados nos séculos XX e XXI, causando, diretamente,
exclusão, desigualdade social e violência.
https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/racismo.htm
Racismo é
a denominação da discriminação e do preconceito (direta ou indiretamente) contra
indivíduos ou grupos por causa de sua etnia ou cor. É importante ressaltar que
o preconceito é uma forma de conceito ou juízo formulado sem qualquer
conhecimento prévio do assunto tratado, enquanto a discriminação é o ato de
separar, excluir ou diferenciar pessoas ou objetos.
Tipos de racismo
→ Preconceito e discriminação racial ou
crime de ódio racial
Nessa
forma direta de racismo, um indivíduo ou grupo manifesta-se de forma violenta
física ou verbalmente contra outros indivíduos ou grupos por conta da etnia,
raça ou cor, bem como nega acesso a serviços básicos (ou não) e a locais pelos
mesmos motivos. Nesse caso, a lei 7716, de 1989, do Código Penal brasileiro
prevê punições a quem praticar tal crime.
→ Racismo institucional
De
maneira menos direta, o racismo institucional é a manifestação de preconceito
por parte de instituições públicas ou privadas, do Estado e das leis que, de
forma indireta, promovem a exclusão ou o preconceito racial. Podemos tomar como
exemplo as formas de abordagem de policiais contra negros, que tendem a ser
mais agressivas. Isso pode ser observado nos casos de Charlottesville,
na Virgínia (EUA), quando após sucessivos assassinatos de negros desarmados e
inocentes por parte de policiais brancos, que alegavam o estrito cumprimento do
dever, a população local revoltou-se e promoveu uma série de protestos.
→ Racismo estrutural
De
maneira ainda mais branda e por muito tempo imperceptível, essa forma de
racismo tende a ser ainda mais perigosa por ser de difícil percepção. Trata-se
de um conjunto de práticas, hábitos, situações e falas embutido em nossos
costumes e que promove, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito
racial. Podemos tomar como exemplos duas situações:
1.
O acesso de negros e indígenas a locais que foram, por muito
tempo, espaços exclusivos da elite, como universidades. O número de negros que
tinham acesso aos cursos superiores de Medicina no Brasil antes das leis
de cotas era ínfimo, ao passo que a população negra estava
relacionada, em sua maioria, à falta de acesso à escolaridade, à pobreza e à
exclusão social.
2.
Falas e hábitos pejorativos incorporados ao nosso cotidiano tendem a reforçar
essa forma de racismo, visto que promovem a exclusão e o preconceito mesmo que
indiretamente. Essa forma de racismo manifesta-se quando usamos expressões
racistas, mesmo que por desconhecimento de sua origem, como a palavra “denegrir”.
Também acontece quando fazemos piadas que associam negros e indígenas a
situações vexatórias, degradantes ou criminosas ou quando desconfiamos da
índole de alguém por sua cor de pele. Outra forma de racismo estrutural muito
praticado, mesmo sem intenção ofensiva, é a adoção de eufemismos para se
referir a negros ou pretos, como as palavras
“moreno” e “pessoa de cor”. Essa atitude evidencia um desconforto das pessoas,
em geral, ao utilizar as palavras “negro” ou “preto” pelo estigma social que a
população negra recebeu ao longo dos anos. Porém, ser negro ou preto não é
motivo de vergonha, pelo contrário, deve ser encarado como motivo de orgulho, o
que derruba a necessidade de se “suavizar” as denominações étnicas com
eufemismos.
Racismo e preconceito
Não
podemos resumir preconceito a racismo, visto que o
preconceito pode advir de várias outras diferenças, como gênero, local de
origem e orientação sexual. Porém, o racismo é uma forma de preconceito e, como
as outras formas, manifesta-se de diversas maneiras, fazendo vítimas todos os
dias.
Segundo
a Revista Retratos, seção do site Agência de Notícias IBGE, vinculado ao
Governo Federal, no senso do IBGE de 2016, os autodeclarados pretos ou
pardos ainda eram maioria nos índices de analfabetismo e desemprego e
obtinham menor renda mensal. Isso implica, segundo o site, a manutenção de um
sistema excludente, que só poderia ser resolvido, segundo o Prof. Dr. Otair
Fernandes, sociólogo e coordenador do Laboratório de Estudos Afro-brasileiros e
Indígenas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (Leafro/UFRRJ), com a
adoção de políticas públicas afirmativas para valorizar quem foi
sistematicamente marginalizado e excluído da sociedade durante tanto tempo.
Nesse caso, seriam necessárias mais que atitudes individuais (de
conscientização), mas uma atuação dos poderes públicos para promover políticas
de inserção e não exclusão dos pretos e pardos no Brasil.
O preconceito
racial não é exclusivo do Brasil, visto que, em maior ou menor escala,
todos os países colonizadores e colonizados apresentam, em algum grau, índices
de preconceito racial contra negros ou, no caso de países colonizados, nativos
daquele local. Também é importante ressaltar que uma ação de preconceito
somente é considerada racista quando há uma utilização sistêmica e baseada em
uma estrutura de poder e dominação contra a etnia da vítima.
Causas do racismo
A
discriminação pela origem pode ser reportada desde a Antiguidade, quando povos
gregos e latinos classificavam os estrangeiros como bárbaros. A
origem da designação do preconceito de raça, em específico, é mais nova, tendo
sido alavancada nos séculos XVI e XVII pela expansão marítima e colonização do
continente americano. O domínio do “novo mundo” (assim chamado pelos europeus),
o genocídio dos povos nativos e a escravização sistêmica
de povos africanos geraram um movimento de tentativa de justificação de tais
relações de poder por uma suposta hierarquia das raças.
Os
europeus consideravam, em sua visão
eurocêntrica, que povos de origem europeia nata seriam mais inteligentes e
capazes para dominar e prosperar, enquanto os negros e indígenas foram, por
muitas vezes, considerados animais.
No
século XIX, com o impulso positivista sobre as ciências, teorias científicas
racistas surgiram para tentar hierarquizar as raças e provar a superioridade
da raça branca pura. O filósofo, diplomata e escritor francês Arthur de
Gobineau (1816-1882) é um dos que mais se destacaram nesse cenário com o
seu Ensaio Sobre a Desigualdade das Raças Humanas.
Surgiu
também no século XIX um estudo baseado na antropologia, na fisiologia e na
psicologia chamado de craniometria ou craniologia.
Tal estudo consistia em retirar medidas de crânios de indivíduos e comparar as
medidas com dados como propensão à violência e coeficientes de inteligência.
Hoje em dia, contudo, os estudos sérios tanto com embasamento sociológico e
psicológico quanto com embasamento genético não dão mais crédito às teorias
racistas do século passado. O nazismo alemão
e entidades como a Klu
Klux Klan, nos Estados Unidos, utilizaram e utilizam essas teorias
raciais ultrapassadas para justificar a supremacia da raça branca.
No
Brasil, as causas do racismo podem ser associadas,
principalmente, à longa escravização de povos de origem africana e a tardia
abolição da escravidão, que foi feita de maneira irresponsável, pois não se
preocupou em inserir os escravos libertos na educação e no mercado de trabalho,
resultando em um sistema de marginalização que perdura até hoje.
Atividade
de leitura e pesquisa:
__________________________________
“A apatia que temos hoje é a apatia da repressão”, diz Luiz Ruffato
“Sociedade brasileira é uma árvore sem raízes”
Em entrevista à DW, o escritor Luiz Ruffato lança um olhar crítico sobre o passado e o presente da sociedade brasileira, que, segundo ele, vê o autoritarismo como a solução mais fácil para a corrupção a violência.
Conhecido por não medir palavras ao falar do Brasil, de sua história e de sua sociedade, o escritor Luiz Ruffato alcançou projeção tanto no Brasil quanto no exterior. Durante o mês de novembro, ele apresenta na Alemanha e na Áustria seu último romance traduzido para o alemão, Vista parcial da noite – o terceiro volume da pentalogia Inferno Provisório.
Na série, Ruffato recria a história do proletariado brasileiro, de 1950 até o início do século 21, no que a editora Companhia das Letras define como “uma saga descomunal sobre um Brasil que muitas vezes não queremos ver”.
Pela pentalogia e por seus demais romances traduzidos para o alemão – incluindo Eles eram muitos cavalos – Ruffato foi reconhecido na Alemanha com o Prêmio Hermann Hesse de 2016. Os organizadores destacaram sua “alta qualidade literária, que possibilita olhar para os abismos de um mundo desconhecido”.
Em entrevista à DW, o escritor mais uma vez lança um olhar crítico sobre a história e a o momento atual do Brasil, que, segundo ele está na iminência de uma nova ditadura.
“Para resolver o dano da corrupção do sistema político e colocar um ponto final na decomposição do sistema de segurança pública […] a população prefere o caminho mais fácil, e ilusório: o do autoritarismo”, afirma.
Para Ruffato, a sociedade brasileira é uma espécie de árvore sem raízes. “O futuro só pode ser construído se você conhece o passado. Mas no Brasil não há uma consciência disso.”
DW Brasil: Inferno provisório é uma pentalogia que retrata a sociedade brasileira num período de cinquenta anos, de 1950 a 2000. Como você procurou ler a história do país nesses anos cruciais?
Luiz Ruffato: Considero que a história do Brasil de hoje é, sem dúvida, o resultado do processo que transformou o país rural em um país urbano. Essa transição, porém, ocorreu de uma maneira totalmente violenta. Não foi algo construído, planejado ou contando com qualquer organização urbana. Mas, algo absolutamente caótico, sem infraestrutura alguma para receber a massa de mão de obra barata do campo para trabalhar na construção civil e no comércio. O que somos hoje é o resultado desse processo: um processo no qual nunca tivemos uma participação efetiva, nunca fomos consultados como população. Todas as decisões tomadas na nossa história foram tomadas autoritariamente, e, como sociedade, somos fruto disso: não pertencemos a lugar algum, estivemos e ainda estamos num limbo. A derrocada do sistema de saúde e de educação é uma evidência disso.
Mas, se isso é tão evidente, se os abismos políticos e sociais do Brasil são tão evidentes, por que se observa em grande parte da população uma inércia e até apatia?
A apatia que temos hoje é a apatia da repressão. Nós temos uma sociedade que nasceu reprimida, que nasceu com a matança de índios, com os feitores batendo nos escravos, com uma imigração de pessoas que iam simplesmente morrer de fome aqui na Europa. Esses fatores fizeram com que a sociedade brasileira fosse moldada pelo medo. Atualmente, contamos com 32 anos de democracia no país. Esse é o período democrático mais longo de toda a história do Brasil, porque ela é uma história de sucessões de ditaduras. Ora, uma sociedade cuja história é uma sucessão de ditaduras é uma sociedade do medo. E, infelizmente, acho que estamos prestes a ter mais um episódio de ditadura. Muito proximamente.
Quão perto estamos dessa ditadura? Isso tem a ver com a onda do fortalecimento do autoritarismo no país?
Estamos na iminência de uma ditadura ao ler que as pesquisas apontam que o candidato da extrema direita e ex-capitão do Exército Jair Bolsonaro é o que mais vem crescendo nas intenções de votos. Hoje, ele iria para um segundo turno com o Lula. Isso deve ser pensado no contexto do viés totalitário da população brasileira. Para resolver o dano da corrupção do sistema político e colocar um ponto final na decomposição do sistema de segurança pública – problemas complexos e de resolução a longo prazo – a população prefere o caminho mais fácil, e ilusório: o do autoritarismo.
A ambientação da sérieInferno Provisório é a cidade mineira de Cataguases, cujos alicerces retratados por você são a migração e a violência. Isso seria uma transferência das bases da sociedade brasileira, não?
Quando se escreve, é necessário fazer recortes que tenham a capacidade de transcendência. Ou seja, aquilo que você escreveu num determinado lugar e espaço pode ser reconhecido num outro lugar e num outro tempo. Nesse ponto, tive a sorte de ter nascido em Cataguases, e o fato de ela ser uma cidade industrial permitiu que eu me debruçasse sobre seus estamentos sociais. E com isso, estava de certa forma me debruçando também sobre os estamentos sociais do Brasil. A história do Brasil, de sua composição econômica, política e social está espelhada na cidade de Cataguases: uma espécie de microcosmo da estrutura do Brasil. As questões inerentes à nossa história também foram transferidas ao romance, como a relação dos operários com as fábricas e das pessoas entre si, a aquisição de bens de consumo pela classe média baixa e o que isso significa e provoca nelas, questões ligadas à migração, à questão de pertencimento e não pertencimento a um determinado lugar.
Quando você aponta a questão de pertencimento e não pertencimento, qual seria a principal consequência desse sentimento de inadequação social na sociedade brasileira?
Precisamos entender que a violência urbana no Brasil está, evidentemente, ligada ao tráfico de drogas, mas mais intrinsecamente ao lugar de pertencimento. Nós tivemos um movimento migratório no Brasil em que as pessoas foram descoladas de seus espaços de conhecimento para as periferias das cidades, onde não tiveram nenhuma relação de enraizamento. Por tanto, isso nos faz pensar que a sociedade brasileira é uma espécie de árvore sem raízes, na qual ninguém se reconhece, na qual não há uma ideia de coletividade e tampouco de sociedade. Pensamos absolutamente de forma individual. Por isso, a violência grassa no Brasil, onde a vida não vale nada. Se não pertencemos a um lugar, se estamos aqui de passagem, é claro que a vida também não terá valor algum.
Se estamos, então, aqui de passagem, em uma espécie de “inferno provisório”, isso significa que a violência nossa de cada dia poderia ser algo temporário? Ou seja, haveria, uma luz no fim do túnel?
O futuro só pode ser construído se você conhece o passado. Mas no Brasil não há uma consciência disso. Na verdade, nunca fomos sujeitos da nossa história, fomos sempre objetos dela. Por isso, é muito difícil construir algo perene e profundo em um cenário assim. O conceito de “inferno provisório” é um problema por conta da dúvida: se o inferno é provisório e se ele se torna um estado definitivo, não há do que escapar, é o inferno realmente. Agora, se ele não se torna um estado definitivo, eu me pergunto: em que ele se transforma, então? Eu não sei. E talvez seja esse o grande enigma que temos no Brasil de hoje: saber exatamente para onde estamos caminhando, se é que que vamos saber algum dia. Eu temo que nunca chegaremos a essa resposta.
Luiz Ruffato (Cataguases, 4 de fevereiro de 1961) é um escritorbrasileiro. Seu romance Eles eram muitos cavalos, de 2001, ganhou o Troféu APCA oferecido pela Associação Paulista de Críticos de Arte e o Prêmio Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional. Em 2011, com a publicação do romance Domingos Sem Deus, concluiu a pentalogia Inferno Provisório.
Por Patricia Faermann - 11/11/2017 - jornalggn.com.br/
“Sociedade brasileira é uma árvore sem raízes”
Em entrevista à DW, o escritor Luiz Ruffato lança um olhar crítico sobre o passado e o presente da sociedade brasileira, que, segundo ele, vê o autoritarismo como a solução mais fácil para a corrupção a violência.
Conhecido por não medir palavras ao falar do Brasil, de sua história e de sua sociedade, o escritor Luiz Ruffato alcançou projeção tanto no Brasil quanto no exterior. Durante o mês de novembro, ele apresenta na Alemanha e na Áustria seu último romance traduzido para o alemão, Vista parcial da noite – o terceiro volume da pentalogia Inferno Provisório.
Na série, Ruffato recria a história do proletariado brasileiro, de 1950 até o início do século 21, no que a editora Companhia das Letras define como “uma saga descomunal sobre um Brasil que muitas vezes não queremos ver”.
Pela pentalogia e por seus demais romances traduzidos para o alemão – incluindo Eles eram muitos cavalos – Ruffato foi reconhecido na Alemanha com o Prêmio Hermann Hesse de 2016. Os organizadores destacaram sua “alta qualidade literária, que possibilita olhar para os abismos de um mundo desconhecido”.
Em entrevista à DW, o escritor mais uma vez lança um olhar crítico sobre a história e a o momento atual do Brasil, que, segundo ele está na iminência de uma nova ditadura.
“Para resolver o dano da corrupção do sistema político e colocar um ponto final na decomposição do sistema de segurança pública […] a população prefere o caminho mais fácil, e ilusório: o do autoritarismo”, afirma.
Para Ruffato, a sociedade brasileira é uma espécie de árvore sem raízes. “O futuro só pode ser construído se você conhece o passado. Mas no Brasil não há uma consciência disso.”
DW Brasil: Inferno provisório é uma pentalogia que retrata a sociedade brasileira num período de cinquenta anos, de 1950 a 2000. Como você procurou ler a história do país nesses anos cruciais?
Luiz Ruffato: Considero que a história do Brasil de hoje é, sem dúvida, o resultado do processo que transformou o país rural em um país urbano. Essa transição, porém, ocorreu de uma maneira totalmente violenta. Não foi algo construído, planejado ou contando com qualquer organização urbana. Mas, algo absolutamente caótico, sem infraestrutura alguma para receber a massa de mão de obra barata do campo para trabalhar na construção civil e no comércio. O que somos hoje é o resultado desse processo: um processo no qual nunca tivemos uma participação efetiva, nunca fomos consultados como população. Todas as decisões tomadas na nossa história foram tomadas autoritariamente, e, como sociedade, somos fruto disso: não pertencemos a lugar algum, estivemos e ainda estamos num limbo. A derrocada do sistema de saúde e de educação é uma evidência disso.
Mas, se isso é tão evidente, se os abismos políticos e sociais do Brasil são tão evidentes, por que se observa em grande parte da população uma inércia e até apatia?
A apatia que temos hoje é a apatia da repressão. Nós temos uma sociedade que nasceu reprimida, que nasceu com a matança de índios, com os feitores batendo nos escravos, com uma imigração de pessoas que iam simplesmente morrer de fome aqui na Europa. Esses fatores fizeram com que a sociedade brasileira fosse moldada pelo medo. Atualmente, contamos com 32 anos de democracia no país. Esse é o período democrático mais longo de toda a história do Brasil, porque ela é uma história de sucessões de ditaduras. Ora, uma sociedade cuja história é uma sucessão de ditaduras é uma sociedade do medo. E, infelizmente, acho que estamos prestes a ter mais um episódio de ditadura. Muito proximamente.
Quão perto estamos dessa ditadura? Isso tem a ver com a onda do fortalecimento do autoritarismo no país?
Estamos na iminência de uma ditadura ao ler que as pesquisas apontam que o candidato da extrema direita e ex-capitão do Exército Jair Bolsonaro é o que mais vem crescendo nas intenções de votos. Hoje, ele iria para um segundo turno com o Lula. Isso deve ser pensado no contexto do viés totalitário da população brasileira. Para resolver o dano da corrupção do sistema político e colocar um ponto final na decomposição do sistema de segurança pública – problemas complexos e de resolução a longo prazo – a população prefere o caminho mais fácil, e ilusório: o do autoritarismo.
A ambientação da sérieInferno Provisório é a cidade mineira de Cataguases, cujos alicerces retratados por você são a migração e a violência. Isso seria uma transferência das bases da sociedade brasileira, não?
Quando se escreve, é necessário fazer recortes que tenham a capacidade de transcendência. Ou seja, aquilo que você escreveu num determinado lugar e espaço pode ser reconhecido num outro lugar e num outro tempo. Nesse ponto, tive a sorte de ter nascido em Cataguases, e o fato de ela ser uma cidade industrial permitiu que eu me debruçasse sobre seus estamentos sociais. E com isso, estava de certa forma me debruçando também sobre os estamentos sociais do Brasil. A história do Brasil, de sua composição econômica, política e social está espelhada na cidade de Cataguases: uma espécie de microcosmo da estrutura do Brasil. As questões inerentes à nossa história também foram transferidas ao romance, como a relação dos operários com as fábricas e das pessoas entre si, a aquisição de bens de consumo pela classe média baixa e o que isso significa e provoca nelas, questões ligadas à migração, à questão de pertencimento e não pertencimento a um determinado lugar.
Quando você aponta a questão de pertencimento e não pertencimento, qual seria a principal consequência desse sentimento de inadequação social na sociedade brasileira?
Precisamos entender que a violência urbana no Brasil está, evidentemente, ligada ao tráfico de drogas, mas mais intrinsecamente ao lugar de pertencimento. Nós tivemos um movimento migratório no Brasil em que as pessoas foram descoladas de seus espaços de conhecimento para as periferias das cidades, onde não tiveram nenhuma relação de enraizamento. Por tanto, isso nos faz pensar que a sociedade brasileira é uma espécie de árvore sem raízes, na qual ninguém se reconhece, na qual não há uma ideia de coletividade e tampouco de sociedade. Pensamos absolutamente de forma individual. Por isso, a violência grassa no Brasil, onde a vida não vale nada. Se não pertencemos a um lugar, se estamos aqui de passagem, é claro que a vida também não terá valor algum.
Se estamos, então, aqui de passagem, em uma espécie de “inferno provisório”, isso significa que a violência nossa de cada dia poderia ser algo temporário? Ou seja, haveria, uma luz no fim do túnel?
O futuro só pode ser construído se você conhece o passado. Mas no Brasil não há uma consciência disso. Na verdade, nunca fomos sujeitos da nossa história, fomos sempre objetos dela. Por isso, é muito difícil construir algo perene e profundo em um cenário assim. O conceito de “inferno provisório” é um problema por conta da dúvida: se o inferno é provisório e se ele se torna um estado definitivo, não há do que escapar, é o inferno realmente. Agora, se ele não se torna um estado definitivo, eu me pergunto: em que ele se transforma, então? Eu não sei. E talvez seja esse o grande enigma que temos no Brasil de hoje: saber exatamente para onde estamos caminhando, se é que que vamos saber algum dia. Eu temo que nunca chegaremos a essa resposta.
Luiz Ruffato (Cataguases, 4 de fevereiro de 1961) é um escritorbrasileiro. Seu romance Eles eram muitos cavalos, de 2001, ganhou o Troféu APCA oferecido pela Associação Paulista de Críticos de Arte e o Prêmio Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional. Em 2011, com a publicação do romance Domingos Sem Deus, concluiu a pentalogia Inferno Provisório.
Contexto Artistico e Cultural from Eduardo Becker Jr.
Marcas
têm o desafio de evitar estereótipos no marketing
por
Adriana Lampert em https://vipceo.com.br/
á
de se primar pela criatividade, sem perder a noção jamais! Este deveria ser o
lema das campanhas publicitárias de uma era onde a sociedade não aceita mais
conteúdo discriminatório nos comerciais de TV, rádio ou jornal. Em tempos onde
o feminismo é bandeira de parte da sociedade – incluindo homens -, fazer
propaganda usando o corpo da mulher como chamarisco para um produto pega muito
mal. Também é bastante desconfortável assistir a uma peça publicitária que
reforce o histórico de que pessoas de cor negra sempre “serviram” às de pele
branca, e assim por diante.
Ainda
que essa linha de pensamento já seja, inclusive, tema em sala de aula nas
universidades que formam profissionais do ramo, é possível relembrar dezenas de
casos recentes que demonstram que certos discursos estão implícitos – ainda que
de forma inconsciente – na maioria das mentes fecundas da propaganda e do
marketing de inúmeras empresas, incluindo as gigantes. Nesse sentido,
desconstruir estereótipos no marketing passa a ser um desafio nem sempre
superado pela a publicidade brasileira. “Na ânsia de se obter um discurso
informal, de marca humanizada e descolada, muitos marqueteiros acabam exagerando
e erram a mão”, admite o publicitário, professor e coordenador do curso de
Design da Faculdade de Tecnologia (FTEc) de Porto Alegre, Lorenzo Ellera. “São
casos pontuais, que, no entanto, têm pautado discussões em todas as
disciplinas”, comenta. O docente exemplifica lembrando um comercial de TV
veiculado por uma loja de roupas femininas em 2014, onde mãos negras vestiam e
colocavam acessórios em uma mulher branca. “O que espanta é que antes de ir
para o ar, o trabalho passou pelas mãos de dezenas de pessoas: redator, diretor
de arte, diretor de criação, atendimento, cliente, departamento de marketing,
produtor, roteirista – todas essas pessoas viram, mas parece que não perceberam
o racismo que estava latejando ali.” Apesar de esteticamente bonita, a peça
remetia à escravidão de forma muito óbvia. “Para evitar seria simples: bastava
colocar mãos brancas servindo uma mulher negra, para alterar o discurso”,
acredita. O professor da FTec-POA destaca que é preciso muito cuidado para não
se reproduzir mensagens que possam vir a ter uma interpretação racista,
machista, ou homofóbica – só para citar três situações bastante recorrentes do
diálogo social dos dias de hoje. “Para evitar erros, sempre é bom chamar uma
curadoria externa, para ter outro olhar. Muitas vezes o pessoal da agência pode
estar viciado em termos de discurso e não se dar conta das mensagens que estão
passando”, aconselha o publicitário. Outro caso envolvendo dualidade na
mensagem, como de cunho racista, ocorreu recentemente com a marca de cosméticos
Dove, da holandesa Unilever. Forçada a pedir desculpas após grande repercussão
de anúncio cujo mote foi interpretado como racista pelos usuários de redes
sociais. Na propaganda, uma modelo negra trocava de camiseta para revelar uma
pele branca, que em seguida removia a sua camiseta, para revelar uma terceira
mulher. Não durou muito tempo no ar, para ser denunciada por usuários em todo o
mundo. “Ser negro significa ser sujo e indesejável?”, postou uma usuária do
Twitter, pedindo boicote aos produtos da marca.
“Erramos
ao representar as mulheres de cor, e lamentamos profundamente os danos
causados”, declarou a empresa em uma mensagem publicada no Facebook e no
Twitter. Em pouco tempo, a Dove removeu a postagem da rede e informou que iria
reavaliar seus processos internos para criar e revisar conteúdo. “Com o vídeo,
pretendíamos transmitir que o sabonete líquido de Dove é para todas as mulheres
(de diferentes etnias) e seria uma celebração da diversidade, porém, não
conseguimos”, admite a empresa em nota, através de sua assessoria de imprensa.
“O vídeo não representou a diversidade da beleza real, algo pelo qual Dove é
apaixonado e o que representa sua essência. E isso não deveria ter acontecido.
Pedimos profundas e sinceras desculpas pela ofensa e não toleramos nenhuma
atividade ou imagem que insulte qualquer público”, finaliza a nota.
Assumir o erro é o
melhor caminho
Este
ano, uma das maiores redes de fast food operou com 100% da equipe feminina em
cerca de 20 unidades, como “homenagem” ao Dia Internacional da Mulher. Alguns
internautas consideraram que a iniciativa foi errada. “Deram folga para os
homens no Dia da Mulher, o que vocês acham disso”, postou um consumidor. Em
nota, o McDonald’s afirmou que a equipe masculina não foi dispensada, mas sim
realocada em outras lojas. “Lamentamos que alguns clientes tenham concluído a
mensagem de maneira equivocada”, dizia o texto. “Considero fraca a reação da
empresa ao problema”, critica Ellera. Segundo o docente, as boas práticas da
propaganda exigem que se assuma o erro. “É preciso colocar a cara a tapa e
fazer de um limão uma limonada”, ensina. Neste caso, o trabalho se volta para a
gestão de crise. “Se monta um comitê com jornalista, pessoal do marketing,
cliente, advogado, entre outros profissionais envolvidos. Jamais se pode
acovardar e se esconder sem reconhecer o equívoco”, alerta. “Dizer que não era
essa intenção não é um bom caminho.” Em 2015, a marca de cerveja Skol, da
Ambev, veiculou em mídia exterior a peça “esqueci o não em casa”, que tinha
como objetivo trazer à tona “as oportunidades” do Carnaval. No entanto, o tom
irritou as mulheres, que receberam o anúncio como um estímulo ao abuso, e uma
intervenção na liberdade e autonomia, principalmente feminina. Após grande
alvoroço, a peça – que trouxe à tona os aspectos mais machistas e violentos dos
quatro dias de festa popular e ignorou a noção de consentimento – acabou sendo
o gancho para uma mudança de postura da marca.
Buscando
desconstruir as imagens do passado, que segundo a Skol, “não representam mais”
a marca, a empresa reuniu um time 100% feminino e ouviu suas opiniões, seus
olhares e seu entendimento de representatividade, para dar início a um projeto
“que tem como princípio máximo” escutar vozes femininas e amplificar suas
opiniões. Para isso, os responsáveis pelo Marketing da Ambev escolheram um
filme para recriar e iniciar o projeto Escuta as Minas. Em 2002, o filme da
cerveja chamado Paquera foi ao ar em TV aberta e mostrava uma moça de biquíni
na praia que tentava, com gestos, se comunicar com um rapaz. Ela não era
entendida ou ouvida. “A mensagem desse filme, 16 anos depois, reflete
perfeitamente a discussão que a cerveja Skol quer amplificar: Por que as
mulheres não são compreendidas na publicidade? E mais, por que não são
ouvidas?”, direciona o gerente de Marketing da empresa, Daniel Feitosa.
Reversão pode fazer
do limão uma limonada
Na
versão de 2018, nomeada Bar, a campanha da Skol “deu voz às mulheres”,
garantindo uma representatividade real e colocando as mulheres onde elas sempre
deveriam estar como protagonistas, bebendo uma Skol gelada e não mais servindo,
como acontecia no passado. “Assim como a sociedade, a Skol evoluiu, deixando
para trás antigos padrões que não a representam mais. A marca quer incentivar
uma vida sem preconceitos e isso tem se refletido em todas as nossas ações e
campanhas, que inclusive revisitam e atualizam antigos comerciais”, afirma
Daniel Feitosa, do Marketing da Ambev. Para o verão e Carnaval de 2018, a
cerveja apresentou, 22 verões depois, a evolução do comercial Desce Redondo.
Embaixo da assinatura Tá Redondo, Tá Junto, a marca defende que “o que desce
mal e afasta as pessoas são os comentários quadrados, enquanto uma atitude
redonda une e torna as coisas mais leves”. “O que impede pessoas diferentes de
se juntarem seja na mesa do bar, na praia ou no churrasco, são alguns
preconceitos”, pontua Feitosa. Também no Carnaval, foi lançada a campanha Skol
Corpo Positivo, com curadoria de Flavia Durante, considerada representante do
movimento contra a gordofobia. “Convidamos modelos de todos os corpos para
pintarem suas peles e celebrarem suas formas durante a folia. Em Porto Alegre,
a ação ocorreu no dia 18 de fevereiro”, comenta Feitosa. Também em 2017, a
cerveja lançou em março a campanha Repôster, que convidou oito ilustradoras
para ressignificar pôsteres antigos, que não representavam mais a marca. O
resultado foram cartazes com mensagens de empoderamento feminino. Depois de uma
marca reverter o mal estar que gerou a partir de um comercial, é preciso também
tomar uma atitude interna em relação ao tema, com ações positivas que tomem
conta daquilo a tal ponto que a mudança não fique só no discurso, considera o
publicitário e mestre em Design, Lorenzo Ellera. “Somente assim é possível de
fato convencer aquelas pessoas que se sentiram incomodadas.” Na opinião do
consultor de varejo, Xavier Fritsch, “fazer um limão de uma limonada”, nestas
situações é bem difícil. “Os erros de discurso na publicidade são, sim, nocivos
à reputação da marca. E é praticamente impossível conquistar de volta 100% do
público que se perde quando se falha na comunicação.”
Gerar
conteúdos de cunho neutro é a decisão mais acertada, destaca Ellera. “É
importante que profissionais de propaganda e marketing façam campanhas bacanas,
mas fundamental que as empresas olhem para dentro da corporação, e incentivem
inclusive os colaboradores a se engajarem em pautas positivas – debaixo da
pirâmide até o topo.”
Além do mau tom, é
preciso cuidar com a demagogia
Muitos
são os constrangimentos que algumas peças publicitárias podem vir a gerar entre
os consumidores: casos recentes, envolvendo o nome da ex-primeira-dama da
República, piadas com mulheres solteiras e com índios, engrossam a lista que
inclui culpabilização de vítimas de assédio, machismo, racismo, entre outros
temas. Mas há também casos, onde – com a proposta de gerar uma imagem positiva
– a marca peca por fazer uma campanha “da boca pra fora”. “Tem se usado muito
os influenciadores de Youtube e blogers, querendo aproximar as marcas da
população de periferia, por exemplo. Mas se o discurso for falso e a marca não
estiver mesmo neste ambiente, é fracasso na certa”, alerta o publicitário,
professor e coordenador do curso de Design da Faculdade de Tecnologia (FTEc) de
Porto Alegre, Lorenzo Ellera. “Vejo mais equívocos com empresas pequenas, onde
não há gente preparada para tomar a decisão final”, comenta o consultor de
varejo, Xavier Fritsch. Ele observa que, quando há erro no discurso, em geral
isso acontece porque a pessoa que está com o poder de aprovar o comercial não
tem maturidade profissional suficiente para identificar possíveis “ciladas”.
“Estão colocando muito a carreta na frente dos bois. Usam, por exemplo, um
negro como protagonista de campanha, mas dentro da empresa ainda não fizeram a
mudança. Percebo isso muito forte no Brasil”, insiste Ellera. Segundo ele,
apesar de tudo, o País já evoluiu bastante e tem potencial para superar mais
este desafio. “Na minha opinião, o Rio Grande do Sul está muito bem em termos
de publicidade”, concorda Fritcsh. “Esses exemplos, apesar de não raros, estão
cada vez mais pontuais.”
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A Carta de Pero Vaz de Caminha
A Carta de Pero Vaz de Caminha enviada ao rei D. Manuel sobre a descoberta do Brasil, é o documento no qual Pero Vaz de Caminha registrou as suas impressões sobre a terra que depois viria a ser chamada de Brasil. Esta carta é o primeiro documento escrito da história do Brasil.
Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que ora nesta navegação se achou, não deixarei também de dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer. Tome Vossa Alteza, porém, minha ignorância por boa vontade, e creia bem por certo que, para aformosear nem afear, não porei aqui mais do que aquilo que vi e me pareceu. Da marinhagem e singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza, porque o não saberei fazer, e os pilotos devem ter esse cuidado. Portanto, Senhor, do que hei de falar começo e digo: A partida de Belém, como Vossa Alteza sabe, foi segunda-feira, 9 de março. Sábado, 14 do dito mês, entre as oito e nove horas, nos achamos entre as Canárias, mais perto da Grã- Canária, e ali andamos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três a quatro léguas. E domingo, 22 do dito mês, às dez horas, pouco mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, ou melhor, da ilha de S. Nicolau, segundo o dito de Pero Escolar, piloto. Na noite seguinte, segunda-feira, ao amanhecer, se perdeu da frota Vasco de Ataíde com sua nau, sem haver tempo forte nem contrário para que tal acontecesse. Fez o capitão suas diligências para o achar, a uma e outra parte, mas não apareceu mais! E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até que, terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, estando da dita Ilha obra de 660 ou 670 léguas, segundo os pilotos diziam, topamos alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, assim como outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam fura-buxos. Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome - o Monte Pascoal e à terra - a Terra da Vera Cruz.
Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças; e ao sol posto, obra de seis léguas da terra, surgimos âncoras, em dezenove braças -- ancoragem limpa. Ali permanecemos toda aquela noite. E à quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos em direitos à terra, indo os navios pequenos diante, por dezessete, dezesseis, quinze, catorze, treze, doze, dez e nove braças, até meia légua da terra, onde todos lançamos âncoras em frente à boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem as dez horas pouco mais ou menos. Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos, por chegarem primeiro. Então lançamos fora os batéis e esquifes, e vieram logo todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor, onde falaram entre si. E o Capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois, quando aos três, de maneira que, ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens. Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas.
Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram. Ali não pôde deles haver fala, nem entendimento de proveito, por o mar quebrar na costa. Somente deu-lhes um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça e um sombreiro preto. Um deles deu-lhe um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas como de papagaio; e outro deu-lhe um ramal grande de continhas brancas, miúdas, que querem parecer de aljaveira, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza, e com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do mar.
Na noite seguinte, ventou tanto sueste com chuvaceiros que fez caçar as naus, e especialmente a capitânia. E sexta pela manhã, às oito horas, pouco mais ou menos, por conselho dos pilotos, mandou o Capitão levantar âncoras e fazer vela; e fomos ao longo da costa, com os batéis e esquifes amarrados à popa na direção do norte, para ver se achávamos alguma abrigada e bom pouso, onde nos demorássemos, para tomar água e lenha. Não que nos minguasse, mas por aqui nos acertarmos. Quando fizemos vela, estariam já na praia assentados perto do rio obra de sessenta ou setenta homens que se haviam juntado ali poucos e poucos. Fomos de longo, e mandou o Capitão aos navios pequenos que seguissem mais chegados à terra e, se achassem pouso seguro para as naus, que amainassem.
Os
nomes do Brasil
- Antes de receber o nome de Brasil nosso país teve 9 nomes:
- Pindorama (nome dado pelos indígenas);
- Ilha de Vera Cruz, em 1500;
- Terra Nova em 1501;
- Terra dos Papagaios, em 1501;
- Terra de Vera Cruz, em 1503;
- erra de Santa Cruz, em 1503;
- Terra Santa Cruz do Brasil, em 1505;
- Terra do Brasil, em 1505;
- Brasil, desde 1527.
E por quê Brasil?
Nosso país recebeu este nome porque nos primeiros anos de sua
colonização era retirada das matas na costa brasileira a madeira da Caesalpinia
echinata, chamada popularmente de pau-brasil. Desta madeira era extraída uma
resina de cor vermelha cor-de-brasa, Brasil, que era usada para tingir tecidos.
JOSÉ BONIFÁCIO
UMA CONCEPÇÃO POLÍTICO-ESTRATÉGICA DE
NAÇÃO
Raul Sturari Doutor em Política e Estratégia e
assessor especial do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da
República.
A Nação brasileira vive,
hoje, uma conjuntura política adversa, onde o maior prejuízo não seja, talvez,
pelos absurdos da corrupção, mas sim pela decepção de significativos segmentos
da população, antes iludidos pelas promessas de mais justiça social. A ocasião
enseja o resgate, no passado, da imagem de José Bonifácio de Andrada e Silva,
como mais importante estadista de sua época e criador de uma bem-sucedida
concepção político-estratégica do Brasil como país independente.
Nasceu em Santos (SP), em
13 de junho de 1763. Após destacar-se como estudante adolescente, foi enviado
por seu pai para Portugal, uma vez que os cursos superiores eram proibidos, na
colônia, em um sistema que ficou conhecido como “clausura intelectual”.
Explica-se: a melhor maneira de manter um povo subjugado ainda é, em pleno
século XXI, impedir que seus cidadãos tenham acesso ao conhecimento. Em
Coimbra, graduou-se em Direito Civil, Filosofia e estudou Ciências Naturais,
com estágios em universidades da França, Itália, Alemanha, Dinamarca e Suécia.
Em 1801, tornou-se o primeiro catedrático de Metalurgia da Universidade de
Coimbra, de onde se projetou como integrante de diversas entidades científicas
da Europa. Como pesquisador, descreveu doze novos minerais e, em sua homenagem,
foi dado o nome de "andradita" a uma variedade cálcio-ferrosa de
granada. Homem de extraordinária cultura, falava e escrevia, correntemente, em
francês, grego, latim, alemão e inglês.
Em 1807, com a invasão de
Portugal pelas tropas napoleônicas, participou da resistência comandando, no
posto de tenente-coronel, o Corpo Acadêmico, enquanto a família Real buscava
refúgio em sua colônia no continente americano. Somente em 1819 regressou ao
Brasil, já dotado de idéias próprias quanto ao melhor cenário futuro para a
Nação. Aqui, encontrou um clima de efervescente agitação política, que
rapidamente o envolveu. Já como vice-presidente da Junta Governativa de S.
Paulo, em 1821, José Bonifácio foi o autor do famoso ofício dos paulistas a D.
Pedro, pedindo sua permanência no Brasil. Sua projeção logo se fez sentir nas
cortes e, após o “Fico”, em janeiro de 1822, foi convidado pelo Príncipe
Regente para assumir o Ministério do Reino e de Estrangeiros. Como membro ativo
da maçonaria, foi o primeiro Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil. Suas
idéias, contudo, não unanimemente aceitas, pois a elas se contrapunha o grupo
liderado por Gonçalves Ledo, propugnando por uma monarquia constitucional,
talvez como início de um caminho de transição para uma república democrática,
nos moldes norte-americanos.
A concepção
político-estratégica de José Bonifácio era diferente. Acompanhava cerradamente
os movimentos separatistas no Novo Mundo, vendo esfacelarem-se as colônias
hispano-americanas e, com elas, os sonhos do libertador Bolívar. A política
aponta o “que fazer”; a estratégia o “como fazer”. Politicamente, era preciso
manter a América portuguesa unida, em uma conjuntura adversa: a unidade
territorial, na prática, não existia, uma vez que as províncias só eram
acessíveis pela navegação de cabotagem; a metrópole estava enfraquecida pelos
acontecimentos na Europa; diversos movimentos separatistas, no nordeste e no
sul, indicavam que as forças centrífugas estavam se avolumando; desenhava-se,
no horizonte temporal, a possibilidade do surgimento de líderes regionais que,
a exemplo dos caudilhos hispânicos, poderiam promover a independência de suas
províncias. Entendeu o estadista que, estrategicamente, só seria possível
manter a América portuguesa unida caso houvesse uma independência com união
brasílico-lusa, ao invés do rompimento definitivo. Além disso, a monarquia
tendendo para o absolutismo era o melhor regime de Estado para a jovem Nação
emancipada – uma vez que, segundo os costumes da época, o imperador
representava um ícone de legitimidade e uma referência para a união dos
contrários. Com os adeptos dessa corrente de idéias, José Bonifácio fundou
também o Apostolado, sociedade secreta semelhante à carbonária européia, com a
finalidade primordial de promover a independência do Brasil. Na condição de
ministro plenipotenciário, que logo adquiriu, sua gestão político-estratégica
foi brilhante: “conquistou, para a causa emancipadora, os representantes da
Áustria e da Inglaterra; ordenou ao Chanceler-Mór (cargo correspondente ao de
ministro da Justiça) que não publicasse lei alguma vinda de Portugal, sem
primeiro submetê-la à sua aprovação e à do príncipe; nomeou um cônsul
brasileiro para Londres, declarando, ao gabinete inglês, que só tal funcionário
poderia, então, liberar navios que se destinassem ao Brasil; enviou emissários
às províncias do norte, a fim de congregá-las para a causa da independência;
aliciou conspiradores em Pernambuco, no Maranhão, no Rio Grande do Norte, na
Bahia e no Pará, para que se rebelassem, na hora exata, contra a metrópole
lusitana, aderindo ao Poder Central; reorganizou o erário; iniciou D. Pedro na
maçonaria, onde seria celeremente guindado ao cargo de Grão-Mestre; por
intermédio de seu irmão Martim, formou um novo Exército e contratou, para a
obra de construção da Marinha de Guerra, o marujo e aventureiro Lord Cochrane.
Esses fatos são todos documentados, inclusive em uma importante edição do
Senado Federal, denominada A Obra Política de José Bonifácio (1973)”. Após a independência, em outubro de 1822,
exacerbaram-se as hostilidades entre os grupos de José Bonifácio e Ledo,
culminando com a deportação de Ledo e de vários de seus liderados. Cerca de um
ano depois, todavia, seria a vez do próprio José Bonifácio ser preso e
desterrado, acusado de conspiração. Sete anos depois, contudo, o Imperador
promovia o regresso do estadista ao Brasil, reaproximando-o da corte a ponto de
nomeá-lo, após a abdicação, como tutor do futuro D. Pedro II. Em 1832, foi
destituído da tutoria, acusado de tentar promover a recolonização do Brasil
junto a Portugal. Foi processado e posteriormente absolvido, por unanimidade.
Faleceu em 1838, em Niterói.
Sua vida foi pontilhada de importantes
realizações, passando para a história como o “Patriarca da Independência”. É
lícito afirmar, porém, que seu maior legado vai além da simples emancipação
política do Brasil, pois logrou, com acurada visão prospectiva, a idealização e
a implantação um modelo de nação capaz de manter-se unida durante as
conturbadas décadas que se seguiram. Essa concepção político-estratégica de
José Bonifácio permitiu realizar, na colônia lusitana, o sonho que Simon
Bolívar viu frustrado, ao tentar unir as colônias hispânicas na América. Herdamos,
assim, um país de proporções continentais, organizado em privilegiada base
territorial, com uma população ordeira e sem quistos raciais. E, especialmente
para os desiludidos, vale afirmar, resolutamente, que os graves problemas
sociais que nos assolam têm solução. Falta-nos, talvez, mais alguns estadistas
da estirpe de José Bonifácio.
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