SOCIEDADE E CULTURA


Curso DESIGN

Turma GCE1440106NNA

Disciplina (GSER941000) - SOCIEDADE E CULTURA

Carga Horária 60h - Limite de Faltas 15



Ementa

Compreender de forma clara os princípios que norteiam a identidade brasileira;

Conhecer a produção dos principais intérpretes do Brasil.


Ementa da disciplina (25% da carga horária)
  • Reflexão sobre a nacionalidade brasileira, relacionando as diversas interpretações dos mais importantes pensadores, desde o século XIX até o final do século XX, suas características, seus impasses e seus desafios.
  • Fatores-chave da definição da sociedade e da cultura brasileiras: mestiçagem, cordialidade, mitos de origem, subdesenvolvimento.

Conteúdo programático

UNIDADE I:
  • AS ETAPAS DE PRODUÇÃO DO PENSAMENTO SOCIAL E CULTURAL BRASILEIRO.
  • A CARTA DO ACHAMENTO, DE PERO VAZ DE CAMINHA.
  • NOMES DADOS AO PAÍS.
  • A PROBLEMÁTICA INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE BRASILEIRA.
  • O BRASIL COMO NAÇÃO.
  • SÉC. XIX: PRIMEIROS INTÉRPRETES DA JOVEM NAÇÃO: BONIFÁCIO, VON MARTIUS, VARNHAGEN, ALENCAR.
  • A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL.
  • A QUESTÃO DA MELHOR RAÇA: MESTIÇAGEM X IMIGRAÇÃO.
  • DISCURSO CIVILIZADOR E DEBATE POLÍTICO: INTEGRAÇÃO CIVIL E RACIAL.
  • CIDADANIA, ESCRAVIDÃO E INDIANISMO.
  • O ESTADO NOVO: GILBERTO FREYRE, SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA, CAIO PRADO JR.
  • DISCUSSÕES SOBRE AS MARCAS DEIXADAS PELO TIPO DE COLONIZAÇÃO DO PAÍS.
  • O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL.
  • A REFLEXÃO SOBRE O HOMEM CORDIAL.
  • A INTERPRETAÇÃO MARXISTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA.

UNIDADE II:
  • OS ANOS JK: CANDIDO, FURTADO, FAORO.
  • A EUFORIA DOS ANOS JK.
  • A CRÍTICA CULTURAL SOBRE A VIDA ECONÔMICA E SOCIAL BRASILEIRA.
  • O FADO DO SUBDESENVOLVIMENTO.
  • A HISTÓRICA APATIA DO POVO BRASILEIRO.
  • O REGIME MILITAR: BRASILIANISTAS, FLORESTAN FERNANDES, DARCY RIBEIRO.
  • OS MOVIMENTOS DE ESQUERDA, O AUTORITARISMO E A DIVERSIDADE CULTURAL.
  • A CONSOLIDAÇÃO DO CAPITALISMO NO BRASIL.
  • LATINIDADE E PERIFERIA.
  • A UTOPIA DE UM POVO NOVO.
  • A NEGRITUDE COMO TRAUMA NACIONAL: PENSADORES NEGROS.
  • MANUEL BONFIM.
  • MILTON SANTOS.
  • ABDIAS NASCIMENTO.
  • GUERREIRO RAMOS.

Metodologia de ensino e aprendizagem
A disciplina, dependendo de sua natureza, pode ser ministrada através de conteúdos teóricos, conteúdos práticos, aulas de campo em instituições específicas e ainda pode utilizar recursos de exposições dialogadas, grupos de discussão, seminários, debates competitivos, apresentação e discussão de filmes e casos práticos, onde os conteúdos podem ser trabalhados mais dinamicamente, estimulando o senso crítico e científico dos alunos.

Metodologia de avaliação
No decorrer de cada período letivo são desenvolvidas 02 (duas) avaliações por disciplina, para efeito do cálculo da média parcial. A média parcial é calculada pela média aritmética das duas avaliações efetuadas. O aluno que alcançar a média parcial maior ou igual a 7,0 (sete) é considerado aprovado. O aluno que não alcançar a média parcial faz em exame final onde precisa alcançar média final maior ou igual a 5,0. São aplicadas avaliações dos tipos: provas teóricas, provas práticas, seminários, trabalhos individuais ou em grupo e outras atividades em classe e extraclasse. O exame final é, obrigatoriamente, prova escrita.


Recursos áudio visuais

Lousa branca;

Projetor Multimídia.

Links Relacionados

JOSÉ BONIFÁCIO: UMA CONCEPÇÃO DE NAÇÃO
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Racismo
O racismo é um dos principais problemas sociais enfrentados nos séculos XX e XXI, causando, diretamente, exclusão, desigualdade social e violência.
https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/racismo.htm

Racismo é a denominação da discriminação e do preconceito (direta ou indiretamente) contra indivíduos ou grupos por causa de sua etnia ou cor. É importante ressaltar que o preconceito é uma forma de conceito ou juízo formulado sem qualquer conhecimento prévio do assunto tratado, enquanto a discriminação é o ato de separar, excluir ou diferenciar pessoas ou objetos.

Tipos de racismo

→ Preconceito e discriminação racial ou crime de ódio racial
Nessa forma direta de racismo, um indivíduo ou grupo manifesta-se de forma violenta física ou verbalmente contra outros indivíduos ou grupos por conta da etnia, raça ou cor, bem como nega acesso a serviços básicos (ou não) e a locais pelos mesmos motivos. Nesse caso, a lei 7716, de 1989, do Código Penal brasileiro prevê punições a quem praticar tal crime.

→ Racismo institucional
De maneira menos direta, o racismo institucional é a manifestação de preconceito por parte de instituições públicas ou privadas, do Estado e das leis que, de forma indireta, promovem a exclusão ou o preconceito racial. Podemos tomar como exemplo as formas de abordagem de policiais contra negros, que tendem a ser mais agressivas. Isso pode ser observado nos casos de Charlottesville, na Virgínia (EUA), quando após sucessivos assassinatos de negros desarmados e inocentes por parte de policiais brancos, que alegavam o estrito cumprimento do dever, a população local revoltou-se e promoveu uma série de protestos.

→ Racismo estrutural
De maneira ainda mais branda e por muito tempo imperceptível, essa forma de racismo tende a ser ainda mais perigosa por ser de difícil percepção. Trata-se de um conjunto de práticas, hábitos, situações e falas embutido em nossos costumes e que promove, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial. Podemos tomar como exemplos duas situações:
1. O acesso de negros e indígenas a locais que foram, por muito tempo, espaços exclusivos da elite, como universidades. O número de negros que tinham acesso aos cursos superiores de Medicina no Brasil antes das leis de cotas era ínfimo, ao passo que a população negra estava relacionada, em sua maioria, à falta de acesso à escolaridade, à pobreza e à exclusão social.
2. Falas e hábitos pejorativos incorporados ao nosso cotidiano tendem a reforçar essa forma de racismo, visto que promovem a exclusão e o preconceito mesmo que indiretamente. Essa forma de racismo manifesta-se quando usamos expressões racistas, mesmo que por desconhecimento de sua origem, como a palavra “denegrir”. Também acontece quando fazemos piadas que associam negros e indígenas a situações vexatórias, degradantes ou criminosas ou quando desconfiamos da índole de alguém por sua cor de pele. Outra forma de racismo estrutural muito praticado, mesmo sem intenção ofensiva, é a adoção de eufemismos para se referir a negros ou pretos, como as palavras “moreno” e “pessoa de cor”. Essa atitude evidencia um desconforto das pessoas, em geral, ao utilizar as palavras “negro” ou “preto” pelo estigma social que a população negra recebeu ao longo dos anos. Porém, ser negro ou preto não é motivo de vergonha, pelo contrário, deve ser encarado como motivo de orgulho, o que derruba a necessidade de se “suavizar” as denominações étnicas com eufemismos.

Racismo e preconceito
Não podemos resumir preconceito a racismo, visto que o preconceito pode advir de várias outras diferenças, como gênero, local de origem e orientação sexual. Porém, o racismo é uma forma de preconceito e, como as outras formas, manifesta-se de diversas maneiras, fazendo vítimas todos os dias.
Segundo a Revista Retratos, seção do site Agência de Notícias IBGE, vinculado ao Governo Federal, no senso do IBGE de 2016, os autodeclarados pretos ou pardos ainda eram maioria nos índices de analfabetismo e desemprego e obtinham menor renda mensal. Isso implica, segundo o site, a manutenção de um sistema excludente, que só poderia ser resolvido, segundo o Prof. Dr. Otair Fernandes, sociólogo e coordenador do Laboratório de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (Leafro/UFRRJ), com a adoção de políticas públicas afirmativas para valorizar quem foi sistematicamente marginalizado e excluído da sociedade durante tanto tempo. Nesse caso, seriam necessárias mais que atitudes individuais (de conscientização), mas uma atuação dos poderes públicos para promover políticas de inserção e não exclusão dos pretos e pardos no Brasil.
preconceito racial não é exclusivo do Brasil, visto que, em maior ou menor escala, todos os países colonizadores e colonizados apresentam, em algum grau, índices de preconceito racial contra negros ou, no caso de países colonizados, nativos daquele local. Também é importante ressaltar que uma ação de preconceito somente é considerada racista quando há uma utilização sistêmica e baseada em uma estrutura de poder e dominação contra a etnia da vítima.

Causas do racismo
A discriminação pela origem pode ser reportada desde a Antiguidade, quando povos gregos e latinos classificavam os estrangeiros como bárbaros. A origem da designação do preconceito de raça, em específico, é mais nova, tendo sido alavancada nos séculos XVI e XVII pela expansão marítima e colonização do continente americano. O domínio do “novo mundo” (assim chamado pelos europeus), o genocídio dos povos nativos e a escravização sistêmica de povos africanos geraram um movimento de tentativa de justificação de tais relações de poder por uma suposta hierarquia das raças.
Os europeus consideravam, em sua visão eurocêntrica, que povos de origem europeia nata seriam mais inteligentes e capazes para dominar e prosperar, enquanto os negros e indígenas foram, por muitas vezes, considerados animais.
No século XIX, com o impulso positivista sobre as ciências, teorias científicas racistas surgiram para tentar hierarquizar as raças e provar a superioridade da raça branca pura. O filósofo, diplomata e escritor francês Arthur de Gobineau (1816-1882) é um dos que mais se destacaram nesse cenário com o seu Ensaio Sobre a Desigualdade das Raças Humanas.
Surgiu também no século XIX um estudo baseado na antropologia, na fisiologia e na psicologia chamado de craniometria ou craniologia. Tal estudo consistia em retirar medidas de crânios de indivíduos e comparar as medidas com dados como propensão à violência e coeficientes de inteligência. Hoje em dia, contudo, os estudos sérios tanto com embasamento sociológico e psicológico quanto com embasamento genético não dão mais crédito às teorias racistas do século passado. O nazismo alemão e entidades como a Klu Klux Klan, nos Estados Unidos, utilizaram e utilizam essas teorias raciais ultrapassadas para justificar a supremacia da raça branca.
No Brasil, as causas do racismo podem ser associadas, principalmente, à longa escravização de povos de origem africana e a tardia abolição da escravidão, que foi feita de maneira irresponsável, pois não se preocupou em inserir os escravos libertos na educação e no mercado de trabalho, resultando em um sistema de marginalização que perdura até hoje.

Atividade de leitura e pesquisa:

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“A apatia que temos hoje é a apatia da repressão”, diz Luiz Ruffato
Por Patricia Faermann - 11/11/2017 - jornalggn.com.br/


“Sociedade brasileira é uma árvore sem raízes”
Em entrevista à DW, o escritor Luiz Ruffato lança um olhar crítico sobre o passado e o presente da sociedade brasileira, que, segundo ele, vê o autoritarismo como a solução mais fácil para a corrupção a violência.

Conhecido por não medir palavras ao falar do Brasil, de sua história e de sua sociedade, o escritor Luiz Ruffato alcançou projeção tanto no Brasil quanto no exterior. Durante o mês de novembro, ele apresenta na Alemanha e na Áustria seu último romance traduzido para o alemão, Vista parcial da noite – o terceiro volume da pentalogia Inferno Provisório.

Na série, Ruffato recria a história do proletariado brasileiro, de 1950 até o início do século 21, no que a editora Companhia das Letras define como “uma saga descomunal sobre um Brasil que muitas vezes não queremos ver”. 

Pela pentalogia e por seus demais romances traduzidos para o alemão – incluindo Eles eram muitos cavalos – Ruffato foi reconhecido na Alemanha com o Prêmio Hermann Hesse de 2016. Os organizadores destacaram sua “alta qualidade literária, que possibilita olhar para os abismos de um mundo desconhecido”.

Em entrevista à DW, o escritor mais uma vez lança um olhar crítico sobre a história e a o momento atual do Brasil, que, segundo ele está na iminência de uma nova ditadura.

“Para resolver o dano da corrupção do sistema político e colocar um ponto final na decomposição do sistema de segurança pública […] a população prefere o caminho mais fácil, e ilusório: o do autoritarismo”, afirma.

Para Ruffato, a sociedade brasileira é uma espécie de árvore sem raízes. “O futuro só pode ser construído se você conhece o passado. Mas no Brasil não há uma consciência disso.”

DW Brasil: Inferno provisório é uma pentalogia que retrata a sociedade brasileira num período de cinquenta anos, de 1950 a 2000. Como você procurou ler a história do país nesses anos cruciais?

Luiz Ruffato: Considero que a história do Brasil de hoje é, sem dúvida, o resultado do processo que transformou o país rural em um país urbano. Essa transição, porém, ocorreu de uma maneira totalmente violenta. Não foi algo construído, planejado ou contando com qualquer organização urbana. Mas, algo absolutamente caótico, sem infraestrutura alguma para receber a massa de mão de obra barata do campo para trabalhar na construção civil e no comércio. O que somos hoje é o resultado desse processo: um processo no qual nunca tivemos uma participação efetiva, nunca fomos consultados como população. Todas as decisões tomadas na nossa história foram tomadas autoritariamente, e, como sociedade, somos fruto disso: não pertencemos a lugar algum, estivemos e ainda estamos num limbo. A derrocada do sistema de saúde e de educação é uma evidência disso.

Mas, se isso é tão evidente, se os abismos políticos e sociais do Brasil são tão evidentes, por que se observa em grande parte da população uma inércia e até apatia?

A apatia que temos hoje é a apatia da repressão. Nós temos uma sociedade que nasceu reprimida, que nasceu com a matança de índios, com os feitores batendo nos escravos, com uma imigração de pessoas que iam simplesmente morrer de fome aqui na Europa. Esses fatores fizeram com que a sociedade brasileira fosse moldada pelo medo. Atualmente, contamos com 32 anos de democracia no país. Esse é o período democrático mais longo de toda a história do Brasil, porque ela é uma história de sucessões de ditaduras. Ora, uma sociedade cuja história é uma sucessão de ditaduras é uma sociedade do medo. E, infelizmente, acho que estamos prestes a ter mais um episódio de ditadura. Muito proximamente.

Quão perto estamos dessa ditadura? Isso tem a ver com a onda do fortalecimento do autoritarismo no país?
Estamos na iminência de uma ditadura ao ler que as pesquisas apontam que o candidato da extrema direita e ex-capitão do Exército Jair Bolsonaro é o que mais vem crescendo nas intenções de votos. Hoje, ele iria para um segundo turno com o Lula. Isso deve ser pensado no contexto do viés totalitário da população brasileira. Para resolver o dano da corrupção do sistema político e colocar um ponto final na decomposição do sistema de segurança pública – problemas complexos e de resolução a longo prazo – a população prefere o caminho mais fácil, e ilusório: o do autoritarismo.

A ambientação da sérieInferno Provisório é a cidade mineira de Cataguases, cujos alicerces retratados por você são a migração e a violência. Isso seria uma transferência das bases da sociedade brasileira, não?

Quando se escreve, é necessário fazer recortes que tenham a capacidade de transcendência. Ou seja, aquilo que você escreveu num determinado lugar e espaço pode ser reconhecido num outro lugar e num outro tempo. Nesse ponto, tive a sorte de ter nascido em Cataguases, e o fato de ela ser uma cidade industrial permitiu que eu me debruçasse sobre seus estamentos sociais. E com isso, estava de certa forma me debruçando também sobre os estamentos sociais do Brasil. A história do Brasil, de sua composição econômica, política e social está espelhada na cidade de Cataguases: uma espécie de microcosmo da estrutura do Brasil. As questões inerentes à nossa história também foram transferidas ao romance, como a relação dos operários com as fábricas e das pessoas entre si, a aquisição de bens de consumo pela classe média baixa e o que isso significa e provoca nelas, questões ligadas à migração, à questão de pertencimento e não pertencimento a um determinado lugar.

Quando você aponta a questão de pertencimento e não pertencimento, qual seria a principal consequência desse sentimento de inadequação social na sociedade brasileira?

Precisamos entender que a violência urbana no Brasil está, evidentemente, ligada ao tráfico de drogas, mas mais intrinsecamente ao lugar de pertencimento. Nós tivemos um movimento migratório no Brasil em que as pessoas foram descoladas de seus espaços de conhecimento para as periferias das cidades, onde não tiveram nenhuma relação de enraizamento. Por tanto, isso nos faz pensar que a sociedade brasileira é uma espécie de árvore sem raízes, na qual ninguém se reconhece, na qual não há uma ideia de coletividade e tampouco de sociedade. Pensamos absolutamente de forma individual. Por isso, a violência grassa no Brasil, onde a vida não vale nada. Se não pertencemos a um lugar, se estamos aqui de passagem, é claro que a vida também não terá valor algum.

Se estamos, então, aqui de passagem, em uma espécie de “inferno provisório”, isso significa que a violência nossa de cada dia poderia ser algo temporário? Ou seja, haveria, uma luz no fim do túnel?

O futuro só pode ser construído se você conhece o passado. Mas no Brasil não há uma consciência disso. Na verdade, nunca fomos sujeitos da nossa história, fomos sempre objetos dela. Por isso, é muito difícil construir algo perene e profundo em um cenário assim. O conceito de “inferno provisório” é um problema por conta da dúvida: se o inferno é provisório e se ele se torna um estado definitivo, não há do que escapar, é o inferno realmente. Agora, se ele não se torna um estado definitivo, eu me pergunto: em que ele se transforma, então? Eu não sei. E talvez seja esse o grande enigma que temos no Brasil de hoje: saber exatamente para onde estamos caminhando, se é que que vamos saber algum dia. Eu temo que nunca chegaremos a essa resposta.


Luiz Ruffato (Cataguases4 de fevereiro de 1961) é um escritorbrasileiro. Seu romance Eles eram muitos cavalos, de 2001, ganhou o Troféu APCA oferecido pela Associação Paulista de Críticos de Arte e o Prêmio Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional. Em 2011, com a publicação do romance Domingos Sem Deus, concluiu a pentalogia Inferno Provisório.



Contexto Artistico e Cultural from Eduardo Becker Jr.


Marcas têm o desafio de evitar estereótipos no marketing

por Adriana Lampert em https://vipceo.com.br/

á de se primar pela criatividade, sem perder a noção jamais! Este deveria ser o lema das campanhas publicitárias de uma era onde a sociedade não aceita mais conteúdo discriminatório nos comerciais de TV, rádio ou jornal. Em tempos onde o feminismo é bandeira de parte da sociedade – incluindo homens -, fazer propaganda usando o corpo da mulher como chamarisco para um produto pega muito mal. Também é bastante desconfortável assistir a uma peça publicitária que reforce o histórico de que pessoas de cor negra sempre “serviram” às de pele branca, e assim por diante.
Ainda que essa linha de pensamento já seja, inclusive, tema em sala de aula nas universidades que formam profissionais do ramo, é possível relembrar dezenas de casos recentes que demonstram que certos discursos estão implícitos – ainda que de forma inconsciente – na maioria das mentes fecundas da propaganda e do marketing de inúmeras empresas, incluindo as gigantes. Nesse sentido, desconstruir estereótipos no marketing passa a ser um desafio nem sempre superado pela a publicidade brasileira. “Na ânsia de se obter um discurso informal, de marca humanizada e descolada, muitos marqueteiros acabam exagerando e erram a mão”, admite o publicitário, professor e coordenador do curso de Design da Faculdade de Tecnologia (FTEc) de Porto Alegre, Lorenzo Ellera. “São casos pontuais, que, no entanto, têm pautado discussões em todas as disciplinas”, comenta. O docente exemplifica lembrando um comercial de TV veiculado por uma loja de roupas femininas em 2014, onde mãos negras vestiam e colocavam acessórios em uma mulher branca. “O que espanta é que antes de ir para o ar, o trabalho passou pelas mãos de dezenas de pessoas: redator, diretor de arte, diretor de criação, atendimento, cliente, departamento de marketing, produtor, roteirista – todas essas pessoas viram, mas parece que não perceberam o racismo que estava latejando ali.” Apesar de esteticamente bonita, a peça remetia à escravidão de forma muito óbvia. “Para evitar seria simples: bastava colocar mãos brancas servindo uma mulher negra, para alterar o discurso”, acredita. O professor da FTec-POA destaca que é preciso muito cuidado para não se reproduzir mensagens que possam vir a ter uma interpretação racista, machista, ou homofóbica – só para citar três situações bastante recorrentes do diálogo social dos dias de hoje. “Para evitar erros, sempre é bom chamar uma curadoria externa, para ter outro olhar. Muitas vezes o pessoal da agência pode estar viciado em termos de discurso e não se dar conta das mensagens que estão passando”, aconselha o publicitário. Outro caso envolvendo dualidade na mensagem, como de cunho racista, ocorreu recentemente com a marca de cosméticos Dove, da holandesa Unilever. Forçada a pedir desculpas após grande repercussão de anúncio cujo mote foi interpretado como racista pelos usuários de redes sociais. Na propaganda, uma modelo negra trocava de camiseta para revelar uma pele branca, que em seguida removia a sua camiseta, para revelar uma terceira mulher. Não durou muito tempo no ar, para ser denunciada por usuários em todo o mundo. “Ser negro significa ser sujo e indesejável?”, postou uma usuária do Twitter, pedindo boicote aos produtos da marca.
“Erramos ao representar as mulheres de cor, e lamentamos profundamente os danos causados”, declarou a empresa em uma mensagem publicada no Facebook e no Twitter. Em pouco tempo, a Dove removeu a postagem da rede e informou que iria reavaliar seus processos internos para criar e revisar conteúdo. “Com o vídeo, pretendíamos transmitir que o sabonete líquido de Dove é para todas as mulheres (de diferentes etnias) e seria uma celebração da diversidade, porém, não conseguimos”, admite a empresa em nota, através de sua assessoria de imprensa. “O vídeo não representou a diversidade da beleza real, algo pelo qual Dove é apaixonado e o que representa sua essência. E isso não deveria ter acontecido. Pedimos profundas e sinceras desculpas pela ofensa e não toleramos nenhuma atividade ou imagem que insulte qualquer público”, finaliza a nota.

Assumir o erro é o melhor caminho
Este ano, uma das maiores redes de fast food operou com 100% da equipe feminina em cerca de 20 unidades, como “homenagem” ao Dia Internacional da Mulher. Alguns internautas consideraram que a iniciativa foi errada. “Deram folga para os homens no Dia da Mulher, o que vocês acham disso”, postou um consumidor. Em nota, o McDonald’s afirmou que a equipe masculina não foi dispensada, mas sim realocada em outras lojas. “Lamentamos que alguns clientes tenham concluído a mensagem de maneira equivocada”, dizia o texto. “Considero fraca a reação da empresa ao problema”, critica Ellera. Segundo o docente, as boas práticas da propaganda exigem que se assuma o erro. “É preciso colocar a cara a tapa e fazer de um limão uma limonada”, ensina. Neste caso, o trabalho se volta para a gestão de crise. “Se monta um comitê com jornalista, pessoal do marketing, cliente, advogado, entre outros profissionais envolvidos. Jamais se pode acovardar e se esconder sem reconhecer o equívoco”, alerta. “Dizer que não era essa intenção não é um bom caminho.” Em 2015, a marca de cerveja Skol, da Ambev, veiculou em mídia exterior a peça “esqueci o não em casa”, que tinha como objetivo trazer à tona “as oportunidades” do Carnaval. No entanto, o tom irritou as mulheres, que receberam o anúncio como um estímulo ao abuso, e uma intervenção na liberdade e autonomia, principalmente feminina. Após grande alvoroço, a peça – que trouxe à tona os aspectos mais machistas e violentos dos quatro dias de festa popular e ignorou a noção de consentimento – acabou sendo o gancho para uma mudança de postura da marca.
Buscando desconstruir as imagens do passado, que segundo a Skol, “não representam mais” a marca, a empresa reuniu um time 100% feminino e ouviu suas opiniões, seus olhares e seu entendimento de representatividade, para dar início a um projeto “que tem como princípio máximo” escutar vozes femininas e amplificar suas opiniões. Para isso, os responsáveis pelo Marketing da Ambev escolheram um filme para recriar e iniciar o projeto Escuta as Minas. Em 2002, o filme da cerveja chamado Paquera foi ao ar em TV aberta e mostrava uma moça de biquíni na praia que tentava, com gestos, se comunicar com um rapaz. Ela não era entendida ou ouvida. “A mensagem desse filme, 16 anos depois, reflete perfeitamente a discussão que a cerveja Skol quer amplificar: Por que as mulheres não são compreendidas na publicidade? E mais, por que não são ouvidas?”, direciona o gerente de Marketing da empresa, Daniel Feitosa.

Reversão pode fazer do limão uma limonada
Na versão de 2018, nomeada Bar, a campanha da Skol “deu voz às mulheres”, garantindo uma representatividade real e colocando as mulheres onde elas sempre deveriam estar como protagonistas, bebendo uma Skol gelada e não mais servindo, como acontecia no passado. “Assim como a sociedade, a Skol evoluiu, deixando para trás antigos padrões que não a representam mais. A marca quer incentivar uma vida sem preconceitos e isso tem se refletido em todas as nossas ações e campanhas, que inclusive revisitam e atualizam antigos comerciais”, afirma Daniel Feitosa, do Marketing da Ambev. Para o verão e Carnaval de 2018, a cerveja apresentou, 22 verões depois, a evolução do comercial Desce Redondo. Embaixo da assinatura Tá Redondo, Tá Junto, a marca defende que “o que desce mal e afasta as pessoas são os comentários quadrados, enquanto uma atitude redonda une e torna as coisas mais leves”. “O que impede pessoas diferentes de se juntarem seja na mesa do bar, na praia ou no churrasco, são alguns preconceitos”, pontua Feitosa. Também no Carnaval, foi lançada a campanha Skol Corpo Positivo, com curadoria de Flavia Durante, considerada representante do movimento contra a gordofobia. “Convidamos modelos de todos os corpos para pintarem suas peles e celebrarem suas formas durante a folia. Em Porto Alegre, a ação ocorreu no dia 18 de fevereiro”, comenta Feitosa. Também em 2017, a cerveja lançou em março a campanha Repôster, que convidou oito ilustradoras para ressignificar pôsteres antigos, que não representavam mais a marca. O resultado foram cartazes com mensagens de empoderamento feminino. Depois de uma marca reverter o mal estar que gerou a partir de um comercial, é preciso também tomar uma atitude interna em relação ao tema, com ações positivas que tomem conta daquilo a tal ponto que a mudança não fique só no discurso, considera o publicitário e mestre em Design, Lorenzo Ellera. “Somente assim é possível de fato convencer aquelas pessoas que se sentiram incomodadas.” Na opinião do consultor de varejo, Xavier Fritsch, “fazer um limão de uma limonada”, nestas situações é bem difícil. “Os erros de discurso na publicidade são, sim, nocivos à reputação da marca. E é praticamente impossível conquistar de volta 100% do público que se perde quando se falha na comunicação.”
Gerar conteúdos de cunho neutro é a decisão mais acertada, destaca Ellera. “É importante que profissionais de propaganda e marketing façam campanhas bacanas, mas fundamental que as empresas olhem para dentro da corporação, e incentivem inclusive os colaboradores a se engajarem em pautas positivas – debaixo da pirâmide até o topo.”

Além do mau tom, é preciso cuidar com a demagogia
Muitos são os constrangimentos que algumas peças publicitárias podem vir a gerar entre os consumidores: casos recentes, envolvendo o nome da ex-primeira-dama da República, piadas com mulheres solteiras e com índios, engrossam a lista que inclui culpabilização de vítimas de assédio, machismo, racismo, entre outros temas. Mas há também casos, onde – com a proposta de gerar uma imagem positiva – a marca peca por fazer uma campanha “da boca pra fora”. “Tem se usado muito os influenciadores de Youtube e blogers, querendo aproximar as marcas da população de periferia, por exemplo. Mas se o discurso for falso e a marca não estiver mesmo neste ambiente, é fracasso na certa”, alerta o publicitário, professor e coordenador do curso de Design da Faculdade de Tecnologia (FTEc) de Porto Alegre, Lorenzo Ellera. “Vejo mais equívocos com empresas pequenas, onde não há gente preparada para tomar a decisão final”, comenta o consultor de varejo, Xavier Fritsch. Ele observa que, quando há erro no discurso, em geral isso acontece porque a pessoa que está com o poder de aprovar o comercial não tem maturidade profissional suficiente para identificar possíveis “ciladas”. “Estão colocando muito a carreta na frente dos bois. Usam, por exemplo, um negro como protagonista de campanha, mas dentro da empresa ainda não fizeram a mudança. Percebo isso muito forte no Brasil”, insiste Ellera. Segundo ele, apesar de tudo, o País já evoluiu bastante e tem potencial para superar mais este desafio. “Na minha opinião, o Rio Grande do Sul está muito bem em termos de publicidade”, concorda Fritcsh. “Esses exemplos, apesar de não raros, estão cada vez mais pontuais.”
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A Carta de Pero Vaz de Caminha

A Carta de Pero Vaz de Caminha enviada ao rei D. Manuel sobre a descoberta do Brasil, é o documento no qual Pero Vaz de Caminha registrou as suas impressões sobre a terra que depois viria a ser chamada de Brasil. Esta carta é o primeiro documento escrito da história do Brasil.


Senhor:
Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que ora nesta navegação se achou, não deixarei também de dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer. Tome Vossa Alteza, porém, minha ignorância por boa vontade, e creia bem por certo que, para aformosear nem afear, não porei aqui mais do que aquilo que vi e me pareceu. Da marinhagem e singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza, porque o não saberei fazer, e os pilotos devem ter esse cuidado. Portanto, Senhor, do que hei de falar começo e digo: A partida de Belém, como Vossa Alteza sabe, foi segunda-feira, 9 de março. Sábado, 14 do dito mês, entre as oito e nove horas, nos achamos entre as Canárias, mais perto da Grã- Canária, e ali andamos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três a quatro léguas. E domingo, 22 do dito mês, às dez horas, pouco mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, ou melhor, da ilha de S. Nicolau, segundo o dito de Pero Escolar, piloto. Na noite seguinte, segunda-feira, ao amanhecer, se perdeu da frota Vasco de Ataíde com sua nau, sem haver tempo forte nem contrário para que tal acontecesse. Fez o capitão suas diligências para o achar, a uma e outra parte, mas não apareceu mais! E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até que, terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, estando da dita Ilha obra de 660 ou 670 léguas, segundo os pilotos diziam, topamos alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, assim como outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam fura-buxos. Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome - o Monte Pascoal e à terra - a Terra da Vera Cruz. 

Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças; e ao sol posto, obra de seis léguas da terra, surgimos âncoras, em dezenove braças -- ancoragem limpa. Ali permanecemos toda aquela noite. E à quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos em direitos à terra, indo os navios pequenos diante, por dezessete, dezesseis, quinze, catorze, treze, doze, dez e nove braças, até meia légua da terra, onde todos lançamos âncoras em frente à boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem as dez horas pouco mais ou menos. Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos, por chegarem primeiro. Então lançamos fora os batéis e esquifes, e vieram logo todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor, onde falaram entre si. E o Capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois, quando aos três, de maneira que, ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens. Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas.

Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram. Ali não pôde deles haver fala, nem entendimento de proveito, por o mar quebrar na costa. Somente deu-lhes um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça e um sombreiro preto. Um deles deu-lhe um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas como de papagaio; e outro deu-lhe um ramal grande de continhas brancas, miúdas, que querem parecer de aljaveira, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza, e com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do mar.

Na noite seguinte, ventou tanto sueste com chuvaceiros que fez caçar as naus, e especialmente a capitânia. E sexta pela manhã, às oito horas, pouco mais ou menos, por conselho dos pilotos, mandou o Capitão levantar âncoras e fazer vela; e fomos ao longo da costa, com os batéis e esquifes amarrados à popa na direção do norte, para ver se achávamos alguma abrigada e bom pouso, onde nos demorássemos, para tomar água e lenha. Não que nos minguasse, mas por aqui nos acertarmos. Quando fizemos vela, estariam já na praia assentados perto do rio obra de sessenta ou setenta homens que se haviam juntado ali poucos e poucos. Fomos de longo, e mandou o Capitão aos navios pequenos que seguissem mais chegados à terra e, se achassem pouso seguro para as naus, que amainassem.


Os nomes do Brasil
    Antes de receber o nome de Brasil nosso país teve 9 nomes:
  1. Pindorama (nome dado pelos indígenas);
  2. Ilha de Vera Cruz, em 1500;
  3. Terra Nova em 1501;
  4. Terra dos Papagaios, em 1501;
  5. Terra de Vera Cruz, em 1503;
  6. erra de Santa Cruz, em 1503;
  7. Terra Santa Cruz do Brasil, em 1505;
  8. Terra do Brasil, em 1505;
  9. Brasil, desde 1527.

E por quê Brasil?
Nosso país recebeu este nome porque nos primeiros anos de sua colonização era retirada das matas na costa brasileira a madeira da Caesalpinia echinata, chamada popularmente de pau-brasil. Desta madeira era extraída uma resina de cor vermelha cor-de-brasa, Brasil, que era usada para tingir tecidos.


JOSÉ BONIFÁCIO
UMA CONCEPÇÃO POLÍTICO-ESTRATÉGICA DE NAÇÃO
Raul Sturari Doutor em Política e Estratégia e assessor especial do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

A Nação brasileira vive, hoje, uma conjuntura política adversa, onde o maior prejuízo não seja, talvez, pelos absurdos da corrupção, mas sim pela decepção de significativos segmentos da população, antes iludidos pelas promessas de mais justiça social. A ocasião enseja o resgate, no passado, da imagem de José Bonifácio de Andrada e Silva, como mais importante estadista de sua época e criador de uma bem-sucedida concepção político-estratégica do Brasil como país independente.
Nasceu em Santos (SP), em 13 de junho de 1763. Após destacar-se como estudante adolescente, foi enviado por seu pai para Portugal, uma vez que os cursos superiores eram proibidos, na colônia, em um sistema que ficou conhecido como “clausura intelectual”. Explica-se: a melhor maneira de manter um povo subjugado ainda é, em pleno século XXI, impedir que seus cidadãos tenham acesso ao conhecimento. Em Coimbra, graduou-se em Direito Civil, Filosofia e estudou Ciências Naturais, com estágios em universidades da França, Itália, Alemanha, Dinamarca e Suécia. Em 1801, tornou-se o primeiro catedrático de Metalurgia da Universidade de Coimbra, de onde se projetou como integrante de diversas entidades científicas da Europa. Como pesquisador, descreveu doze novos minerais e, em sua homenagem, foi dado o nome de "andradita" a uma variedade cálcio-ferrosa de granada. Homem de extraordinária cultura, falava e escrevia, correntemente, em francês, grego, latim, alemão e inglês.
Em 1807, com a invasão de Portugal pelas tropas napoleônicas, participou da resistência comandando, no posto de tenente-coronel, o Corpo Acadêmico, enquanto a família Real buscava refúgio em sua colônia no continente americano. Somente em 1819 regressou ao Brasil, já dotado de idéias próprias quanto ao melhor cenário futuro para a Nação. Aqui, encontrou um clima de efervescente agitação política, que rapidamente o envolveu. Já como vice-presidente da Junta Governativa de S. Paulo, em 1821, José Bonifácio foi o autor do famoso ofício dos paulistas a D. Pedro, pedindo sua permanência no Brasil. Sua projeção logo se fez sentir nas cortes e, após o “Fico”, em janeiro de 1822, foi convidado pelo Príncipe Regente para assumir o Ministério do Reino e de Estrangeiros. Como membro ativo da maçonaria, foi o primeiro Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil. Suas idéias, contudo, não unanimemente aceitas, pois a elas se contrapunha o grupo liderado por Gonçalves Ledo, propugnando por uma monarquia constitucional, talvez como início de um caminho de transição para uma república democrática, nos moldes norte-americanos.
A concepção político-estratégica de José Bonifácio era diferente. Acompanhava cerradamente os movimentos separatistas no Novo Mundo, vendo esfacelarem-se as colônias hispano-americanas e, com elas, os sonhos do libertador Bolívar. A política aponta o “que fazer”; a estratégia o “como fazer”. Politicamente, era preciso manter a América portuguesa unida, em uma conjuntura adversa: a unidade territorial, na prática, não existia, uma vez que as províncias só eram acessíveis pela navegação de cabotagem; a metrópole estava enfraquecida pelos acontecimentos na Europa; diversos movimentos separatistas, no nordeste e no sul, indicavam que as forças centrífugas estavam se avolumando; desenhava-se, no horizonte temporal, a possibilidade do surgimento de líderes regionais que, a exemplo dos caudilhos hispânicos, poderiam promover a independência de suas províncias. Entendeu o estadista que, estrategicamente, só seria possível manter a América portuguesa unida caso houvesse uma independência com união brasílico-lusa, ao invés do rompimento definitivo. Além disso, a monarquia tendendo para o absolutismo era o melhor regime de Estado para a jovem Nação emancipada – uma vez que, segundo os costumes da época, o imperador representava um ícone de legitimidade e uma referência para a união dos contrários. Com os adeptos dessa corrente de idéias, José Bonifácio fundou também o Apostolado, sociedade secreta semelhante à carbonária européia, com a finalidade primordial de promover a independência do Brasil. Na condição de ministro plenipotenciário, que logo adquiriu, sua gestão político-estratégica foi brilhante: “conquistou, para a causa emancipadora, os representantes da Áustria e da Inglaterra; ordenou ao Chanceler-Mór (cargo correspondente ao de ministro da Justiça) que não publicasse lei alguma vinda de Portugal, sem primeiro submetê-la à sua aprovação e à do príncipe; nomeou um cônsul brasileiro para Londres, declarando, ao gabinete inglês, que só tal funcionário poderia, então, liberar navios que se destinassem ao Brasil; enviou emissários às províncias do norte, a fim de congregá-las para a causa da independência; aliciou conspiradores em Pernambuco, no Maranhão, no Rio Grande do Norte, na Bahia e no Pará, para que se rebelassem, na hora exata, contra a metrópole lusitana, aderindo ao Poder Central; reorganizou o erário; iniciou D. Pedro na maçonaria, onde seria celeremente guindado ao cargo de Grão-Mestre; por intermédio de seu irmão Martim, formou um novo Exército e contratou, para a obra de construção da Marinha de Guerra, o marujo e aventureiro Lord Cochrane. Esses fatos são todos documentados, inclusive em uma importante edição do Senado Federal, denominada A Obra Política de José Bonifácio (1973)”.  Após a independência, em outubro de 1822, exacerbaram-se as hostilidades entre os grupos de José Bonifácio e Ledo, culminando com a deportação de Ledo e de vários de seus liderados. Cerca de um ano depois, todavia, seria a vez do próprio José Bonifácio ser preso e desterrado, acusado de conspiração. Sete anos depois, contudo, o Imperador promovia o regresso do estadista ao Brasil, reaproximando-o da corte a ponto de nomeá-lo, após a abdicação, como tutor do futuro D. Pedro II. Em 1832, foi destituído da tutoria, acusado de tentar promover a recolonização do Brasil junto a Portugal. Foi processado e posteriormente absolvido, por unanimidade. Faleceu em 1838, em Niterói.
Sua vida foi pontilhada de importantes realizações, passando para a história como o “Patriarca da Independência”. É lícito afirmar, porém, que seu maior legado vai além da simples emancipação política do Brasil, pois logrou, com acurada visão prospectiva, a idealização e a implantação um modelo de nação capaz de manter-se unida durante as conturbadas décadas que se seguiram. Essa concepção político-estratégica de José Bonifácio permitiu realizar, na colônia lusitana, o sonho que Simon Bolívar viu frustrado, ao tentar unir as colônias hispânicas na América. Herdamos, assim, um país de proporções continentais, organizado em privilegiada base territorial, com uma população ordeira e sem quistos raciais. E, especialmente para os desiludidos, vale afirmar, resolutamente, que os graves problemas sociais que nos assolam têm solução. Falta-nos, talvez, mais alguns estadistas da estirpe de José Bonifácio.

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